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Bay View Campus: o complexo do Google construído para a eternidade

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Ocupando 17 hectares em Mountain View, na California, o primeiro campus inteiramente construído pelo Google foi idealizado para ser funcional e produtivo

foto de fachada do campus do Google, na Califórnia
Os requisitos iniciais incluíam pé-direito duplo, entrada de luz natural em todos os ambientes, estrutura exposta, entre outros (Foto: BIG e Google/Divulgação)

19/09/2022 | 15:46  O Google “deu um Google”: prédio na Califórnia funcional e produtivo. E, sem resultados para a busca, teve a ideia de criar seu primeiro campus no país onde foi fundado, os Estados Unidos. Ocupando 17 hectares em Mountain View, na California, o complexo Bay View Campus foi projetado pelos escritórios de arquitetura Bjarke Ingels Group e Heatherwick Studio.

O projeto ganhou linhas sinuosas, placas solares que lembram as escamas de um dragão e uma série de amenidades, descritas pelos idealizadores como funcionais e criativas. Mas esses não foram os maiores desafios da construção. A proposta do Google era construir um ambiente que “durasse para sempre” e que fosse considerado inovador por muitos anos — um obstáculo e tanto, já que a proposta surgiu ainda em 2015.

“Foi algo bem difícil de imaginar, porque a gente nem fazia ideia de como seria a vida ou o trabalho no futuro — e isso foi antes mesmo da pandemia de Covid-19", lembra a arquiteta Michelle Kaufmann, diretora de pesquisa e desenvolvimento imobiliário do Google, em entrevista ao Tilt.

foto de fachada do campus do Google, na Califórnia
(Foto: BIG e Google/Divulgação)

O projeto

Segundo Kaufmann, o primeiro passo foi fazer o que eles fazem de melhor: pesquisar. O intuito era descobrir tudo sobre prédios que se mantiveram funcionais por vários séculos, passíveis de adaptações para diferentes utilizações, e, sobretudo, técnicas da arquitetura que promovessem a produtividade dos colaboradores.

Assim, os requisitos iniciais foram definidos: pé-direito duplo; entrada de luz natural em todos os ambientes; estrutura exposta e longo espaço entre colunas de sustentação. Além disso, outro quesito muito estudado e tido como crucial na ambientação do local foi o design de acesso dos funcionários aos times. O conceito, segundo eles, é simples: o acesso deve ser imediato aos times de interação mais intensa, que são de 4 a 12 pessoas, e pouco flexibilizados nos times de interação mais ampla.

“Nós conseguimos aproveitar dados dos últimos 15 anos para descobrir como os funcionários do Google realizam seu melhor trabalho. Ao mesmo tempo que a principal métrica de sucesso, tanto individual quanto de produtos, é o acesso de cada pessoa ao seu time imediato, se as pessoas estão em diferentes andares, é quase a mesma coisa de estarem em diferentes cidades. Não acontecem aquelas colisões casuais que geram criatividade”, conta Kaufmann. “É aproximar alguns poucos sem desconectar muitos: uma missão não tão fácil em um complexo pensado para mais de 6.500 funcionários.”

foto de fachada do campus do Google, na Califórnia
(Foto: BIG e Google/Divulgação)

Design e estrutura

Baseando-se nesses dados, a equipe optou pela criação de apenas dois andares no complexo. No térreo ficam as áreas comuns — como cafés, salas de reunião e academia, que podem ser ambientes mais descontraídos — e na parte de cima, as mesas de trabalho individual, em locais mais quietos e para um trabalho mais focado.

A divisão parece simples, até a arquiteta falar sobre as transições entre os dois pisos. Com mais de 20 pátios internos (cada um decorado por um artista plástico diferente), os funcionários do Google podem usufruir da "Praça da Bicicleta" (onde é possível fazer reuniões pedalando sem sair do lugar e usando o movimento para carregar seu celular), do "Distrito do Dinossauro" ou do "Mercado das Mariposas", por exemplo.

foto de fachada do campus do Google, na Califórnia
(Foto: BIG e Google/Divulgação)

Vale ressaltar, também, que o nome dos ambientes não são os únicos que fazem alusão à natureza — o design também contém uma série de referências biofílicas, que pregam que elementos orgânicos estimulam a cognição.

Assim, o conceito ganhou janelas gigantescas, que ficam na curvatura horizontal dos telhados, para levar luz natural a todos os pontos; persianas digitais, que regulam a entrada de luminosidade; visões desobstruídas de qualquer ponto no escritório, eliminando o pensamento de “escritório de canto”, em que as salas com vistas para o exterior são reservadas aos executivos do alto escalão; e, por fim, divisões entre os times por “vizinhanças”, que podem ser totalmente reconfiguradas em dois dias.

foto de fachada do campus do Google, na Califórnia
(Foto: BIG e Google/Divulgação)

Por fim, para manter o máximo de espaço entre as colunas de sustentação (o must have dos prédios eternos), as curvas foram quase uma obrigatoriedade para os arquitetos. Para isso, a aposta foi na estrutura catenária, que utiliza vigas curvas e minimiza o uso do aço. “Se a gente pensar num sistema que usa menos aço, então com o tempo, ele vai custar menos em manutenção e causar uma pegada de carbono menor", sumariza Kaufmann.

O formato dos telhados também favorece outras duas metas de sustentabilidade. Primeiro, porque possibiliza a reutilização de toda água captada das chuvas, que é reciclada e reaproveitada (a única água que eles demandam da rede pública municipal é a usada para beber). E segundo, porque as "telhas", que aparentam ser "escamas de dragão", na verdade são painéis solares. Aliás, não parecer um painel solar era um ponto importante para o Google: a empresa dispensou vários modelos que eram "lindos, mas não tão eficientes e outros que eram eficientes, mas não tão bonitos", Kaufamnn conta.

foto de fachada do campus do Google, na Califórnia
(Foto: BIG e Google/Divulgação)

O jeito foi o próprio Google viabilizar o projeto de uma startup, que nem estava no mercado ainda. Hoje, os painéis suprem 40% de toda a energia necessária. "Considerando que somos uma empresa de tecnologia, isso é bastante coisa", afirma a arquiteta. Outra parcela da energia é garantida por turbinas eólicas, num local próximo.

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