Atividade industrial sinaliza um fraco 1º semestre
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Comparada a abril de 2014, a produção da indústria brasileira apresentou uma retração de 7,6% no mês passado desse ano
03 de junho de 2015 - A produção industrial caiu de forma generalizada em abril, confirmando a sinalização de piora da atividade vista nos três primeiros meses. Para economistas ouvidos pelo DCI, a falta de investimentos aponta manutenção do cenário de retração no semestre.
A atividade recuou 1,2% entre março e abril, segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com igual mês de 2014, houve queda de 7,6% no indicador. Dos 26 ramos pesquisados, 23 apresentaram recuo nessa base de comparação.
"Parece que ainda não chegamos no pior cenário e não está claro quando haverá melhora", afirma o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), Emerson Marçal.
Além da produção, o uso da capacidade instalada e o faturamento também recuaram em abril, mostra a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A utilização da capacidade instalada (UCI) passou de 81,1% para 80,6%. Já o faturamento real da indústria caiu 10,3% na comparação com abril de 2014.
Na avaliação do economista chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, os baixos níveis de confiança na indústria sugerem dificuldades no segundo trimestre e restante do ano.
Ele prevê queda de 4% na produção industrial esse ano, considerando a alta nas tarifas de energia, as políticas monetárias e fiscais do governo, os custos trabalhistas elevados, a infraestrutura deficitária e a inflação em alta.
O economista da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira, também citou a necessidade de mudança na política econômica, além das condições externas, para uma retomada do setor. Em relatório, Silveira observa que a recuperação está longe de acontecer.
Para o economista da Fundação Instituto de Administração (FIA), Alan Ghani, há espaço para novas quedas na indústria, com possibilidade de reversão no quadro de perdas a partir de 2016. "Mas não é nada espetacular, apenas um movimento de reversão".
Investimentos
Ghani lembra que a categoria de bens de capital, que apresentou a maior queda no mês, é uma das mais relevantes para o setor, porque tem impacto direto no Produto Interno Bruto (PIB). "Essa retração sinaliza queda do investimento produtivo. O consumo da própria indústria que está caindo", diz.
Entre janeiro e abril, a categoria de bens de capital acumula uma queda de 19,7% frente igual período do ano anterior. Já na comparação de abril com o mesmo mês de 2014, a retração foi de 24% - a quarta queda consecutiva no indicador mensal.
A categoria foi influenciada pelas perdas em todos os componentes do indicador, segundo o IBGE, principalmente pela redução de 29,8% na produção de equipamentos de transporte. Esse setor sofreu o reflexo da menor fabricação de caminhão-trator para reboques e semirreboques, caminhões, veículos para transporte de mercadorias e reboques e semirreboques.
As categorias de bens de capital de uso misto (-27,8%), para fins industriais (-7,8%), construção (-35,4%), energia elétrica (-20,2%) e agrícola (-12,2%) também recuaram.
"O setor de bens de capital vem sofrendo com falta de investimentos desde o início do ano passado, quando os incentivos do governo foram suspensos. Se não houver a volta desses incentivos, não há expectativa de melhora", analisa o economista da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Marcos Antonio de Andrade.
Na categoria de bens intermediários, a queda foi de 3,2% contra abril passado e recuo de 2,9% no acumulado do ano.
A retração no mês foi atribuída principalmente a menor atividade na categoria de veículos automotores, reboques e carrocerias (-20,2%), de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-8,2%) e de metalurgia (-9,8%). O impacto positivo veio das indústrias extrativas (11,1%) e produtos alimentícios (4,1%).
Consumo
Na categoria de bens de consumo, a produção caiu 11,2% frente a abril de 2014 e no acumulado dos quatro primeiros meses o recuo foi de 9,1%, contra igual período de 2014.
O segmento de bens duráveis registrou o décimo quarto resultado negativo em abril com queda no indicador mensal (-17,1%) e no acumulado do ano (-16%) frente igual período de 2014.
As principais influências negativas vieram do setor de automóveis (-14,0%) e eletrodomésticos da linha marrom (-42,2%), reflexo da redução das jornadas de trabalho e férias coletivas nas fábricas.
"Todos os segmentos industriais tiveram recuo e me chama a atenção a queda de 2,2% da produção de bens de consumo semi e não duráveis: eles são os bens de consumo recorrentes das famílias é só assistem queda em situação muito particular, de forte freio na renda", ressaltou Paulo Silveira.
Em abril, a retração da atividade na categoria de bens semi e não duráveis (-9,3%) contra o mesmo mês de 2014 foi influenciada pela queda nos segmentos de não duráveis (-15,0%), alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-6,5%), semiduráveis (-8,7%) e carburantes (-8,9%). No acumulado do ano, a queda da categoria foi de 6,8%.

