Canal de São Lourenço: conheça a complexa obra de dragagem
O desassoreamento vai aprofundar o canal dos atuais 6 para 11 m. Confira os desafios dessa complexa obra, os equipamentos utilizados e as soluções de engenharia

(Foto: Divulgação)
O Complexo Industrial e Portuário de Niterói (RJ) poderá ser acessado por navios de maior porte dentro de 15 meses, tempo previsto para a finalização das obras de dragagem do Canal de São Lourenço. Com investimentos de R$ 137 milhões da Prefeitura de Niterói e R$ 20 milhões da Companhia Docas do Rio de Janeiro, empresa pública ligada ao governo federal, o desassoreamento, iniciado em 02 de abril último, abrangerá uma área total de 3,8 hectares.
A DTA Engenharia, líder do consórcio responsável pela execução do serviço, considera essa uma obra complexa. “É um canal confinado, com margens ocupadas e constante tráfego de embarcações, o que deve demandar contínuo alinhamento junto aos atores portuários para manutenção da segurança da navegação”, informa o engenheiro Gustavo Luiz Giorgiano, gerente de Engenharia da DTA.
A retirada de toneladas de sedimentos vai aprofundar o canal de 6 para 11 m em alguns trechos, desde o Porto de Niterói até o Terminal Pesqueiro – este último inaugurado há 15 anos e nunca utilizado por falta de acesso marítimo. “Haverá importante benefício para a circulação e renovação hídrica, bem como para a geometria da via navegável e as profundidades. A obra atenderá ao navio tipo de cada trecho”, acrescenta.
O objetivo das autoridades é que a obra induza o aumento de 30% da capacidade de operação dos estaleiros, desenvolva a indústria de embarcações e o setor de reparos e offshore. Espera-se, também, a criação de cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos durante a dragagem.
Infográfico
Profundidades atuais e futuras
No canal principal e no canal de acesso ao Porto de Niterói, as menores profundidades estão entre 6 e 7 m. O desassoreamento atingirá, no canal principal, profundidade alvo de 11 m e de 9 m no canal de acesso ao Porto de Niterói.
“Destaca-se que a obra será realizada em diversos trechos com navios tipo e morfologias de fundo distintas. Logo, para cada trecho, de acordo com seu navio tipo, existem traçados geométricos e profundidades alvo singulares”, afirma o engenheiro, indicando que a dragagem será realizada em áreas ao redor da Ilha da Conceição, incluindo regiões do trecho entre a Ilha da Conceição e a Ponte Rio-Niterói.
A previsão da DTA é que um total de 1,6 milhão m³ de sedimentos serão dragados. Desses, 1,3 milhão m³ são identificados como material não contaminado que, portanto, deverá ser descartado em área de bota-fora oceânico – poligonal de descarte do material, licenciada pelo Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA).
(Foto: Divulgação)O tratamento dos 300 mil m³ de sedimentos contaminados será feito com o acondicionamento em geobags, de acordo com as diretrizes da Resolução Conama Nº 454/2012. “Posteriormente, esse material será destinado a aterro licenciado pelo órgão ambiental estadual”, diz o engenheiro.
O sedimento contaminado é referente à classificação do Conama quanto à presença de metais. Foram feitas amostragens da água na superfície, meio e fundo, em diversos pontos de coleta. Análises laboratoriais estudaram a presença percentual de chumbo, cobre, cromo, mercúrio, níquel e zinco, apontando que é preciso adotar cuidados especiais no processo de dragagem.
Soluções de engenharia
De acordo com Giorgiano, o que diferencia esse projeto de dragagem dos demais é a necessidade de soluções de engenharia, com uso de diversos tipos de draga, como autotransportadoras (hopper), clamshell e dragas de sucção e recalque. Para os trechos mais profundos foi escolhida uma draga autotransportadora em conjunto com dragas mecânicas e batelões. Nas áreas mais rasas e com maiores restrições de manobrabilidade, vão operar as dragas de sucção e recalque.
“Os equipamentos são definidos com base nas premissas de engenharia de dragagem, estabelecendo-se frentes de serviço e marcos a serem atingidos. A escolha dos equipamentos é dada em função do tipo de material e das profundidades atuais observadas em batimetria, de modo que se possa trabalhar com segurança”, explica.
(Foto: Divulgação)As dragas autotransportadoras e de sucção e recalque utilizam bombas para remoção e transporte do material, enquanto as dragas backhoe e clamshell adotam meios mecânicos. Haverá, inclusive, momentos de operação simultânea desses equipamentos.
Para a execução das obras de desassoreamento serão necessários canteiros nas margens do canal. São áreas para apoio aos equipamentos e, também, para o tratamento do material destinado aos geobags. “Tanto para os espaços ocupados em terra quanto em água, contamos com a colaboração da comunidade portuária de Niterói”, ressalta.
As obras de dragagem foram licenciadas pelo INEA – Licença de Instalação LI nº IN052763 –, com 30 condicionantes específicas a serem atendidas pelo Município de Niterói, detentor da licença.
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Colaboração técnica
- Gustavo Luiz Giorgiano – É Engenheiro Civil com ênfase em sistemas construtivos, formado pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Tem experiência de nove anos em Engenharia Portuária com importantes projetos e obras de dragagem nos principais portos do Brasil.

