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SOLUÇÕES EM EPS

EPS geotécnico é recurso em obras de taludes e aterros

Uso de blocos de poliestireno expandido (EPS), conhecidos como geofoam, é uma das soluções técnicas que garante estabilidade e reduz risco de recalque e ruptura

Vinícius Veloso

EPS geotécnico é recurso em obras de taludes e aterrosEPS geotécnico é recurso em obras de taludes e aterros
Os blocos de poliestireno expandido têm cerca de 1% do peso do solo e menos de 10% do peso de outros materiais usados no preenchimento de aterros (Foto: Theodore P. Webb/Shutterstock)

A presença de camadas de solo mole, ocorrência de erosões ou rupturas, sistemas de drenagem com funcionamento inadequado e quedas de barreiras são alguns dos principais problemas encontrados nas obras de taludes e aterros em rodovias. Para todos eles, existem soluções capazes de remediar a situação, porém, dependendo das circunstâncias de cada cenário, o custo elevado pode inviabilizar a obra.

Análises técnicas e econômicas, assim como estudos prévios, são os passos iniciais para evitar surpresas negativas quando as obras já estiverem em andamento. “Teoricamente, deveriam ser feitos projetos de engenharia, verificando diversos pontos, como a erodibilidade do solo, estabilidade de taludes e geomorfologia”, diz o engenheiro Luis Edmundo Prado de Campos, membro da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS).

Entretanto, ainda de acordo com o especialista, as investigações nem sempre são feitas. “Há muito mais um projeto geométrico do que um projeto geotécnico”, afirma, indicando que basta rápida pesquisa na internet para encontrar diversos relatos dos órgãos de controle de problemas causados por conta de solos moles.

Aterros sobre solos moles

O engenheiro alerta que a suspeita da existência de solos moles pode ser evidenciada em regiões planas. “Porque essas áreas podem ser uma zona de deposição de material que, se for argiloso, acaba criando camada de solo mole”, informa. No entanto, isso não ocorre obrigatoriamente em todo local com relevo plano. A certeza sobre o problema vem por meio das investigações geotécnicas, fundamentais antes de iniciar qualquer atividade no canteiro.

“Durante a obra da Linha Verde na Bahia, que liga a capital Salvador até a divisa com o Estado de Sergipe, sempre que tínhamos topografia com seção longitudinal encontrando com um trecho plano, na maioria dos casos, existiam solos moles. A equipe responsável era capaz até mesmo de estimar a espessura dessas camadas, apenas prolongando a topografia dos morros entre um pedaço e outro do solo mole”, exemplifica Prado.

Esse problema é mais sério quando acontece no encontro de pontes, onde pode causar um carregamento lateral (efeito de Tschebotarioff). “E também nos bueiros, como ocorreu em obra executada em Cabrália, na Bahia. Nela, o aterro tinha cerca de 4 m de altura e os recalques, 1,20 m. Então, um bueiro no ponto mais baixo do vale sofreria deformações que seriam facilmente soterradas devido às flechas formadas em função dos recalques”, diz Prado.

Uso do EPS para substituir os solos moles

Há diversas alternativas para lidar com o solo mole, uma delas é substituir essa camada quando sua espessura assim permitir. “Tudo passa por decisões prévias que devem ser muito bem pensadas, principalmente, nas proximidades das obras de arte”, destaca o engenheiro. Uma das opções são os blocos de poliestireno expandido (EPS), que têm cerca de 1% do peso do solo e menos de 10% do peso de outros materiais usados no preenchimento de aterros.

Tudo passa por decisões prévias que devem ser muito bem pensadas, principalmente, nas proximidades das obras de arte, Luis Edmundo Prado de Campos

Também conhecidos como geofoam, os blocos de EPS reduzem os carregamentos e também diminuem o empuxo nos encontros de ponte sobre solo mole. “Na Bahia, o material foi empregado pela primeira vez em 1993, no aterro de acesso à ponte sobre o rio Pedras 2, na rodovia BA-099 - Linha Verde, sendo uma boa solução”, comenta o engenheiro, citando o baixo peso e a redução dos esforços horizontais como algumas das vantagens do produto.

Para aproveitar o benefício dos blocos de poliestireno expandido, são necessários alguns cuidados durante as obras. As peças precisam ser protegidas por mantas para evitar o contato com certas substâncias químicas, como hidrocarbonetos (gasolina). Também é importante estudar a profundidade do lençol freático na região, pois as peças devem sempre ficar acima do nível d’água por conta de sua baixa densidade.

Problemas nos cortes

Para suavizar um talude sem a necessidade de contenções, o procedimento realizado é a conformação geométrica. “Em uma estrada, caso o talude seja muito elevado, é possível executar um corte mais aberto, técnica que, muitas vezes, não é utilizada nos centros urbanos devido às limitações impostas pelo terreno vizinho”, descreve o engenheiro. O procedimento pede alguns cuidados específicos, como a cobertura vegetal.

“Ao realizar um corte, o terreno fica exposto às intempéries. Então, é indicado plantar alguma vegetação no local para garantir a estabilidade quanto à erosão”, afirma Prado, recomendando o uso de plantas nativas nessas situações. “Muitas vezes, são colocadas gramas em placas. Mas, se o solo não for fértil, ele vai consumir rapidamente o húmus existente nas placas e pouco tempo depois a grama estará completamente apodrecida”, adverte.

O engenheiro comenta que, atualmente, é ensinado nas universidades que a inclinação dos taludes de corte segue a proporção 3(V):2(H), ou seja, para cada 2 m de avanço no plano horizontal devem existir 3 m na vertical. “Já nos taludes de aterro ocorre o oposto, com 2 m na vertical e 3 m na horizontal”, compara. Ao planejar o corte, os profissionais responsáveis já devem considerar como será realizada a coleta das águas pluviais, sendo rotineiro usar patamares a cada 8 m, no máximo.

Sistema de drenagem

Um dos sistemas mais importantes desse tipo de obra, a drenagem geralmente acaba sendo pensada somente no final da obra, quando, normalmente, os recursos já estão mais escassos. Assim, a instalação é executada de maneira inadequada ou até mesmo deixada de lado. Seja pela ausência ou operação errada do sistema de drenagem, o resultado será a ocorrência de problemas futuros.

“Em algumas obras, são colocados pedaços de rochas na drenagem com a justificativa correta de que o material ajudará a dissipar a energia da água. Mas, por outro lado, quem opta por essa solução se esquece de que a pedra jogará a água para as laterais, contribuindo para o surgimento de erosões nesses pontos. O ideal seria a criação de escadarias profundas, de tal maneira que a água não respingasse para fora”, avalia o engenheiro.

Prado menciona ainda uma obra em Maragogipe, na Bahia, que sofreu com problemas de drenagem. “Foi cortada a crista do talude para colocação do sistema de drenagem. Essa camada superficial era argilosa e em seguida vinha outra arenosa. Após a primeira escavação, o dinheiro acabou e a drenagem foi deixada de lado. Com isso, a água infiltrou pela calha sem revestimento e provocou ruptura de, aproximadamente, 1 km de escorregamentos na via”, detalha.

Outro exemplo de drenagem executada de maneira equivocada é quando a canaleta fica acima do nível do terreno. Com isso, ao invés de o sistema coletar a água e escoar esse volume, ele acaba contribuindo para o surgimento de poças. “Muitas vezes, a drenagem malfeita ou projetada sem cuidados leva a essa concentração de água. Ou seja, o sistema contribui para criar o problema que ele justamente deveria evitar”, afirma o especialista.

Muitas vezes, a drenagem malfeita ou projetada sem cuidados leva a essa concentração de água. Ou seja, o sistema contribui para criar o problema que ele justamente deveria evitar, Luis Edmundo Prado de Campos

Erosões

A falta de um bom sistema de drenagem provoca erosões, que podem ser remediadas, mas em processos bastante caros. Por isso, a melhor alternativa é apostar sempre na prevenção, com o correto escoamento da água e o uso de cobertura vegetal quando necessário. “A escolha das plantas adequadas para o local pede o auxílio de um engenheiro agrônomo. Lembrando que a erosão acontece, principalmente, pela concentração de água”, conclui Prado.

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Para mais informações e detalhes técnicos, acesse www.isorecort.com.br.

Colaboração Técnica

Luis Edmundo Prado de Campos

Luis Edmundo Prado de Campos — Engenheiro civil pela Universidade Federal da Bahia e mestre em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É professor titular aposentado na Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia. Tem vasta experiência em estabilidade de taludes, barragens, pavimentação e instrumentação. Foi presidente do Núcleo Bahia da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS). Preside também o CREA-BA (2018-2020). Foi homenageado com as medalhas da Defesa Civil Nacional e Amigo da Marinha - 2o Distrito Naval, e homenageado pela AEPET, ABENC e ABMS-NRBA pelos relevantes serviços a engenharia no ensino e atividade profissional. Recebeu o Prêmio CNT de Produção Acadêmica 2012.