

A construção civil vem dominando, de maneira crescente, o conhecimento e o uso do poliestireno expandido (EPS) na elevação do terreno sustentado por muros de contenção. De acordo com o professor doutor José Orlando Avesani Neto, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), o material substitui a prática convencional de aterros com solo com as vantagens de ser leve e com propriedades mecânicas semelhantes às de um aterro compactado em boas condições.
O aterro feito com blocos de EPS de alta densidade, também conhecidos como geofoam, alivia a carga nas fundações do muro e absorve os empuxos do solo em seu tardoz. Ao transmitir menor carga para o paramento do muro de arrimo, o material proporciona redução de armadura e concreto. “Ou seja, reduz a rigidez do paramento do muro de contenção”, acrescenta o especialista. Dependendo da localização da obra e da época do ano, a execução do aterro com blocos de EPS será muito mais rápida do que utilizando solo.
“Os blocos são montados à semelhança de um Lego. Já o aterro com solo necessita de camadas compactadas de 20 cm”, diz. Mais trabalhosa, a técnica convencional exige o transporte do solo com posterior lançamento de camadas sucessivas de solo a cada 20 ou 30 cm, espalhamento, correção do teor de umidade, compactação e o posterior controle para verificação de sua efetividade. Para o aterro com EPS, podem ser colocados blocos com dimensões de cerca de 4x2x1 m, o que equivale à execução de 16 m³ em minutos. A produtividade do material é muito superior, inclusive em época de chuvas que, no outro caso, impacta o processo de terraplanagem e compactação do solo.
O fato de o poliestireno expandido ser um material industrializado é vantagem adicional, pois o controle de qualidade é feito em ambiente industrial e atestado por ensaios de laboratório. “Quando se usa solo, a manufatura do material é feita na própria obra”, comenta Avesani.
A especificação dos blocos depende de variáveis, de acordo com as características de cada obra. São considerados, entre outros fatores, a localização da obra, a altura do aterro, a utilização do muro de contenção, o tipo de solo local que causará empuxo e o paramento do muro, como blocos ou concreto armado.
A execução de aterros com blocos de EPS dispensa mão de obra especializada e qualquer tipo de equipamento. “Dois ou três operários são suficientes para fazer a montagem dos blocos, o que inclui transportar, manusear e instalar as peças na obra, mesmo as de maiores dimensões”, afirma o professor. Essa condição difere da técnica de aterro com solo, que pede equipamentos de terraplanagem, ou seja, de transporte, espalhamento e compactação. E, eventualmente, de recursos para o umedecimento (caminhão-pipa) ou para secagem (arado).
Os blocos de EPS são empilhados, evitando junta a prumo, de maneira a amarrar o contato entre as peças – como é feito com os tijolos em paredes de alvenaria. Normalmente, o material utiliza junta seca. Dependendo da obra, podem ser usados elementos de ligação entre eles. “Há opções como placas metálicas ou barras de ligação para melhorar o encaixe, lembrando que, na maior parte dos casos, o atrito de interface entre os blocos é elevado o suficiente para garantir a conexão”, ensina.
É fundamental a instalação de sistema de drenagem no terreno suportado pelo muro de arrimo, tanto nos aterros com blocos de EPS como naqueles com solo. O objetivo é captar e conduzir um indesejado fluxo de água que possa haver no local. Esse sistema é constituído, de maneira geral, por material filtrante e drenante. A providência evita que partículas do solo sejam carreadas, gerando erosão interna no terreno, além de empuxos de água.
É preciso, também, impermeabilizar o topo do aterro executado com poliestireno expandido, o que pode ser feito com manta plástica – em geral de polietileno. Isto evita que a água da chuva penetre nos poros de EPS, impactando em sua leveza. Outra função da manta é impedir que, caso circulem veículos no topo do aterro, os hidrocarbonetos como gasolina e óleo diesel permeiem o sistema, degradando o EPS. “Essas são as únicas substâncias que corroem o material”, completa.
Aterros executados com poliestireno expandido chegam a ter custos menores se comparados aos do sistema convencional. “Para se falar em economia de uma obra, é preciso considerar que o critério não é exatamente o custo do material, mas de todos os recursos envolvidos na operação. É óbvio que EPS é mais caro do que solo, porém proporciona uma obra muito mais rápida, reduzindo consequentemente o tempo de mobilização de mão de obra e de maquinário, além de custos indiretos”, argumenta Avesani, observando que o custo unitário dessa atividade se torna menor. Além disso, o sistema com poliuretano expandido assegura menores custos com ações não previstas, como as chuvas de verão que inviabilizam a execução de aterro com solo.
O aterro com blocos de EPS é solução para obras grandes e pequenas, até mesmo de uma residência. O professor observa que, em obras de maior porte, é comum que a construtora tenha previsão de solo disponível e de maquinário. “Já nas menores, há maior dificuldade em levar uma pequena quantidade de solo para o terreno. O orçamento da obra também será impactado pela locação de equipamentos de terraplanagem para espalhamento e compactação. Nesses casos, o EPS pode ser uma vantagem muito significativa em relação ao solo”, diz.
Hoje, as construtoras já dominam o conhecimento executivo do uso do poliuretano expandido para aterros. Avesani aponta, no entanto, o desafio para algumas empresas de vencer a barreira de projetar com um material que nunca utilizaram. “O mesmo vale para o contratante, que deve ser convencido de que os blocos de EPS são uma solução técnica e economicamente eficiente”, conclui Avesani.
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José Orlando Avesani Neto – Engenheiro Civil, Mestre e Doutor pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP). Atuou como Consultor e Pesquisador no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) em obras de infraestrutura como barragens, túneis, escavações urbanas, fundações, monitoramento e modelos físicos e numéricos e como consultor in company no mercado de Geossintéticos. Atualmente é consultor nas mesmas áreas pela Avesani Consultoria Geotécnica e Professor Doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP).