Quais são os passos da transformação digital nas construtoras?
Identificar precisamente o problema a ser resolvido, apostar no registro digital dos dados e contar com um profissional qualificado para liderar o processo são passos iniciais relevantes
Com a maior oferta de plataformas e soluções digitais para a construção civil, a tecnologia da informação se tornou mais acessível para os construtores e incorporadores. Passos rumo à transformação digital podem ser progressivos e embasados nos desafios e problemas que a empresa já enfrenta (Imagem: ilustração gerada com inteligência artificial utilizando a ferramenta DALL-E, por OpenAI)A transformação digital avança em praticamente todos os setores da economia no mundo. E a indústria da construção civil e arquitetura não está fora desse processo.
As mudanças podem ser implementadas desde o estudo de viabilidade, da concepção dos empreendimentos, e passam pela fase de projeto e planejamento, gerenciamento da execução, pós-obra, marketing e vendas, gestão financeira até manutenção e operação.
Não são todas as empresas na área, entretanto, que se mostram engajadas nesse sentido. Mas o que falta para começar? Entender os benefícios? Perceber o prejuízo de ficar para trás? Como ignorar a relevância do BIM e ou os recentes avanços da inteligência artificial no setor?
Para falar sobre a transformação digital na construção civil, convidamos para o Podcast AEC Responde o Fabrício Schveitzer, conselheiro de negócios do Sienge, Ecossistema de Tecnologia e Negócios da Indústria da Construção e do Mercado Imobiliário.
Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.
AECweb – Pensando em uma pequena construtora que ainda não digitalizou boa parte dos seus processos, quais são os passos evolutivos na transformação digital e como quantificar os benefícios dessa mudança?
Fabrício Schveitzer – Há alguns anos, contratar tecnologia da informação era mais caro e menos acessível, tanto pelo custo das ferramentas quanto pela falta de opções para pequenas empresas. Hoje, temos uma oferta de soluções bem mais ampla. Porém, dois pontos seguem fundamentais. Primeiro: identificar dentro da equipe quem possui perfil para adotar e ajudar a implementar tecnologia, pois é essencial ter alguém com intimidade para liderar e dar celeridade ao processo. Pode ser alguém que tenha proximidade com a empresa, um consultor ou prestador de serviço externo. Não tem problema. O importante é que tenha a habilidade necessária para encurtar caminhos. Fazer do zero e aprender tudo sozinho pode custar caro e demandar mais tempo. Segundo: é importante saber qual problema a empresa quer resolver com tecnologia. É melhorar a velocidade de implantação dos empreendimentos? A comunicação? Ou o planejamento e controle das obras? Atacar um problema por vez permite obter resultados rápidos, algo importante para empresas menores, que podem desistir se os benefícios demorarem a aparecer.
AECweb – O uso estratégico de dados e informações, muitas vezes gerados pelas próprias empresas, tem se intensificado no setor. Como tirar o maior proveito disso em prol do negócio?
Schveitzer – É comum associar dados a grandes volumes e análises complexas, mas pequenas empresas podem e devem se beneficiar de algo mais simples. Gosto de dividir o uso de dados em três camadas: operacional (correção de rota), tática (eficiência e produtividade) e estratégica (direcionamentos futuros). Para começar, o registro digital de informações é fundamental. Algo como, por exemplo, rastrear erros em processos. Identificar falhas recorrentes pode revelar onde falta treinamento ou ajustes. Na Dimas Construções, implementamos um sistema de catraca com reconhecimento facial que verificava o status da documentação e do treinamento dos funcionários antes de entrarem no canteiro de obra. Isso mitigou problemas trabalhistas e trouxe um ganho operacional imediato. Em um segundo momento – aí sim –, comecei a verificar se as minhas equipes estavam balanceadas, se estavam disponíveis no dia que precisávamos ou quantas pessoas eram necessárias para executar um determinado trabalho. Mas isso veio em um segundo momento. Pequenas empresas não precisam de soluções mirabolantes. O simples registro de dados já oferece grandes avanços.
As pessoas também perguntam:
O que é BIM 5D?
AECweb – Qual é a importância do uso da metodologia BIM na transformação digital do setor?
Schveitzer – Implemento BIM desde 2016 e percebi que se trata de um processo de construção virtual, não apenas de projeto. Ainda temos um desafio cultural, pois muitos projetistas foram treinados para projetar, não para construir. Inicialmente, o foco de muitas empresas era extrair quantitativos para orçamentos, mas hoje vemos novas aplicações, como a viabilidade volumétrica, com modelos menos complexos, porém, carregados com mais informações. As maiores dificuldades, na minha visão, estão relacionadas à compatibilização de projetos entre diferentes profissionais e ferramentas. As incorporadoras se tornaram grandes gestoras de projetos: são 20, 30, até 40 especialidades distintas em um edifício. Porém, avanços recentes nas ferramentas e a chegada de novos profissionais com conhecimento em programação têm tornado o BIM mais acessível e eficiente. Eles estão usando a ferramenta de um jeito um pouco diferente. Conseguem abstrair um pouco dessa complexidade dos diferentes projetistas, usando a programação, para compensar um pouco da dificuldade inerente ao processo. Confesso que, nos últimos três anos, eu estava mais desesperançoso em relação ao BIM. Mas retomei a crença de que possa se consolidar como uma solução mais acessível e democrática para o setor. Vamos entrar em uma nova fase.
AECweb – O futuro da digitalização na construção civil passa pelo uso da inteligência artificial, assim como já ocorre em outros setores da economia. Quais têm sido as frentes de trabalho de incorporadoras e construtoras nas quais isso tem ocorrido com maior rapidez e desenvoltura?
Schveitzer – Vai demorar mais para entrar, provavelmente, nas áreas de projeto por uma questão de entendimento de contexto. A inteligência artificial tem avançado mais rapidamente em áreas com contextos bem definidos, como o atendimento ao cliente (CRMs), análise de dados e automação de documentos, incluindo leitura de escrituras, interpretação de contratos e matrículas. Na arquitetura, tem sido empregada para criar imagens conceituais e alternativas de briefing. Nos próximos anos, veremos a IA aplicada em sistemas de planejamento, gestão e controle de obras. Recursos como rebalanceamento de linhas de balanço, ajustes em cronogramas e refinamento de orçamentos de obras serão mais presentes. Tais soluções já estão em testes, mas acredito que ganharão relevância em curto prazo, tornando os processos ainda mais eficientes e ágeis.
AEC Responde
Envie sua dúvida técnica sobre construção, engenharia civil e arquitetura
Colaboração técnica
- Fabricio Schveitzer – Graduado e mestre em administração na ESAG – Universidade de Santa Catarina, é conselheiro de Estratégia e Mercado do SIENGE. Conselheiro da Cidade Pedra Branca, da Dimas Construções e do Construtor de Vendas. Ex-diretor de Economia do Sinduscon Florianópolis, sócio da Unique MCA – Construção e Incorporação, investidor da Wow Aceleradora e professor de pós-graduação. Foi mentor da startup de construção modular Brasil ao Cubo, COO da Mormaii Fitness e professor de graduação em administração por 10 anos.





