Como fazer inspeção para manutenção de pisos industriais de concreto?
Avaliação deve ser feita por especialista, com atenção às cargas aplicadas e aos equipamentos que trafegam sobre o piso. Relatório precisa conter registro fotográfico, causas de eventuais anomalias, detalhamento de soluções e procedimentos de execução
Por meio de escaneamento a laser, novas tecnologias, como o High Definition Map, geram uma nuvem de pontos com precisão de até um milímetro. Permitem análises topográficas, monitoramento de deformações e verificação de conformidade (Imagem: LPE Engenharia)A inspeção prévia, antes da realização da manutenção periódica, é muito importante para garantir a durabilidade, segurança e funcionalidade de pisos industriais de concreto. Em tempos de aquecimento dos negócios, principalmente na área logística, a demanda por esse tipo de serviço costuma crescer.
Algumas questões são importantes: como verificar a planicidade e o nivelamento do piso preexistente? Devem ser realizados ensaios técnicos complementares à inspeção visual? E o que deve conter um bom relatório de manutenção?
Para responder tais questões, convidamos para o Podcast AEC Responde o engenheiro civil Igor Henrique Donisete, gerente do departamento de obras da LPE Engenharia, que atua na área de consultoria técnica e projetos de pisos de concreto e pavimentação.
Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.
AECweb – Como deve ser feita a inspeção para a manutenção de pisos industriais de concreto e qual é a frequência adequada?
Igor Henrique Donisete – Para começar, é importante destacar a relevância da manutenção de pisos de concreto. Costumo fazer uma analogia com um carro: você pode ter o melhor e mais completo modelo. Se não seguir o manual de manutenção, a vida útil será reduzida. Isso também vale para pisos de concreto. E, muitas vezes, nem mesmo manutenções básicas, como a limpeza adequada, são realizadas. A inspeção deve ser feita por um profissional especialista em pisos de concreto, pois essa é uma área muito específica. Profissionais de outras disciplinas podem interpretar de forma equivocada as patologias ou comportamentos desses pisos. O especialista deve identificar não apenas patologias, mas também as respectivas causas, o que é essencial para aplicar soluções eficazes. Durante as inspeções, é importante verificar as cargas aplicadas e os equipamentos em uso, avaliando se estão de acordo com o que foi projetado. Afinal, o excesso de carga é uma das causas mais comuns de problemas. O plano de limpeza também deve ser analisado. Produtos inadequados, por exemplo, costumam ser agressivos ao piso. Além disso, é fundamental observar a condição das juntas, que são os pontos mais vulneráveis de um piso de concreto: avaliar esborcinamento, danificações e selamento. Problemas nas juntas podem causar sérios danos, por exemplo, às rodas de empilhadeiras, que têm alto custo para os usuários. Quanto à frequência, o ideal é realizar inspeções semestrais ou, no máximo, anuais.
AECweb – O ideal, então, seria de seis meses a um ano após a entrega do piso, para fazer uma primeira inspeção?
Donisete – Exatamente. A menos que haja algo preocupante impactando a operação, a primeira inspeção deve ocorrer dentro desse período. Avaliar a carga, os equipamentos utilizados e a limpeza são itens fundamentais. Pequenas negligências acumuladas costumam causar prejuízos significativos no longo prazo.
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AECweb – Como pode ser verificada a planicidade e o nivelamento do piso preexistente?
Donisete – A planicidade está ligada ao conforto operacional, enquanto o nivelamento é fundamental para a segurança da estocagem em alturas elevadas. Por exemplo, em operações logísticas com estocagem de 12 a 20 metros de altura, pequenas variações no nivelamento podem comprometer a segurança. Para verificar essas condições, são usados os F-Numbers, sendo o FF para planicidade e o FL para nivelamento. Esses parâmetros são aferidos com equipamentos como o perfilógrafo de tipo II, o Dipstick.
AECweb – Há ensaios técnicos que podem complementar a observação visual?
Donisete – Sim. Vale destacar as novas operações robotizadas, que estão avançando no Brasil e demandam análises mais detalhadas do piso. Na LPE Engenharia, implementamos uma tecnologia pioneira chamada High Definition Map. Por meio de escaneamento a laser, criamos uma nuvem de pontos com precisão de até um milímetro, permitindo análises topográficas, monitoramento de deformações e verificação de conformidade com as normas técnicas. Outro ensaio importante é o de abrasão, realizado de acordo com a norma britânica BS 13892-4. Avalia a resistência do piso ao desgaste. Outros ensaios complementares incluem monitoramento de fissuras, verificação topográfica e análise de dureza dos materiais de selamento.
AECweb – O que deve conter um bom relatório técnico de manutenção de pisos industriais de concreto?
Donisete – Há dois tipos de relatórios: para pisos já existentes e para os recém-entregues. No caso de preexistentes, o relatório deve conter um registro fotográfico capaz de documentar as condições do piso e da operação, com uma organização clara dos dados, agrupando patologias e áreas afetadas, análise das causas para identificar problemas e sugerir os ensaios necessários. Também deve incluir o detalhamento das soluções com procedimentos claros para execução, incluindo especificações de desempenho dos materiais. Já para pisos novos, é fundamental entregar um manual de utilização, que deve conter um plano de inspeções, indicando a frequência e os itens a serem avaliados, além de orientações sobre a limpeza. Também deve especificar produtos que podem ser prejudiciais ao piso, recomendações para manutenções periódicas, troca de selantes e reaplicação de endurecedores, assim como instruções para tratamento de danos e tamponamento de furos. Com tais informações, o relatório se torna uma ferramenta valiosa tanto para o operador quanto para o gestor do piso, garantindo maior longevidade e desempenho.
AEC Responde
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Colaboração técnica
- Igor Henrique Donisete — Mestre em engenharia civil pela Universidade São Judas Tadeu, é graduado em engenharia civil pela Universidade Anhanguera de São Paulo, com pós-graduação Lato-Sensu (MBA) em liderança, inovação e gestão 3.0 pela PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). Participação em inúmeros congressos, palestras e seminários com ênfase em geotecnia, concreto e pisos industriais. Desde 2012, atua na área de consultoria e projetos de piso de concreto e pavimentação. Gerente do departamento de obras na LPE Engenharia.





